O mercado de crédito desafia a rigidez dos juros altos no Brasil
Mercado de crédito cresce no Brasil apesar dos juros altos, impulsionado por empresas e desafios estruturais como inadimplência e impostos.

O mercado de crédito brasileiro tem mostrado uma resiliência surpreendente, mesmo diante de um ambiente de juros extremamente elevados. Enquanto se esperava que taxas tão altas arrefecessem o apetite por novos financiamentos, o que se observa é justamente o contrário: uma expansão consistente do crédito, impulsionada sobretudo pela demanda empresarial. Este fenômeno revela não apenas a dinâmica complexa da economia brasileira, mas também os desafios estruturais que ainda limitam o pleno desenvolvimento do crédito no país.
Crédito em expansão apesar dos juros elevados
Em abril de 2025, a taxa média de juros no crédito livre alcançou 45,3% ao ano. Esse patamar, que seria considerado proibitivo em muitos países, revela a face tradicionalmente onerosa do crédito no Brasil. A discrepância entre os segmentos é evidente: enquanto as empresas pagam, em média, 26% ao ano, as famílias arcam com impressionantes 57,4%.
Apesar dessas taxas elevadas, o volume de concessões de crédito apresentou crescimento significativo. Em termos ajustados pela sazonalidade, houve um avanço de 3,7% nas novas operações em abril, com destaque para a expansão de 12,5% nas concessões às empresas, contrastando com um incremento modesto de 0,4% no crédito às famílias. No acumulado de 12 meses, o crédito para empresas cresceu 17,8%, enquanto para as famílias o avanço foi de 11,3%.
A dinâmica empresarial como motor do crédito
A maior parte dessa expansão se deve ao setor empresarial, que, diante de um ambiente econômico de recuperação gradual e da necessidade de financiar investimentos ou reforçar capital de giro, recorre ao crédito mesmo diante dos custos elevados. Isso demonstra a capacidade das empresas de absorver tais custos ou, ao menos, considerá-los como inevitáveis para a manutenção de suas operações.
No entanto, essa tendência não é homogênea. Grandes corporações conseguem acessar o mercado de capitais, realizando emissões de debêntures ou outros títulos, muitas vezes com custos menores do que os oferecidos pelos bancos. Por outro lado, pequenas e médias empresas (PMEs) permanecem fortemente dependentes do crédito bancário tradicional, estando, portanto, mais expostas às taxas elevadas e aos riscos do ambiente macroeconômico.
Barreiras estruturais de inadimplência, judicialização e tributação
Apesar do dinamismo observado, o mercado de crédito brasileiro ainda enfrenta entraves significativos. Um dos principais obstáculos é a dificuldade na recuperação de créditos inadimplentes. A morosidade do sistema judicial, associada a processos onerosos e complexos, torna a execução de garantias e a recuperação de ativos uma tarefa desafiadora e, muitas vezes, ineficiente.
Além disso, os custos indiretos associados ao crédito são exacerbados pela elevada carga tributária. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), recentemente ajustado, representa mais um encargo sobre os novos financiamentos, contribuindo para o encarecimento do crédito, sobretudo no segmento de pessoas físicas e PMEs.
Outro aspecto preocupante é o aumento expressivo dos pedidos de recuperação judicial e de falências ao longo de 2024, atingindo patamares históricos. Embora haja sinais incipientes de estabilização em 2025, o quadro ainda inspira cautela, especialmente considerando o ambiente de crédito mais restritivo e a persistência de dificuldades estruturais.
Crédito às famílias em expansão moderada e riscos latentes
Enquanto o crédito às empresas cresce de forma robusta, o crédito às famílias apresenta expansão mais moderada. Isso se deve, em parte, ao elevado nível de endividamento das famílias brasileiras, que já compromete parcela significativa da renda com o serviço da dívida. As taxas de inadimplência, embora estáveis, continuam elevadas, refletindo a dificuldade dos consumidores em arcar com compromissos financeiros em um cenário de juros altos e inflação ainda acima da meta.
Esse quadro impõe limites naturais à expansão do crédito ao consumo e representa um fator de risco para o sistema financeiro, que precisa calibrar cuidadosamente a concessão de crédito para evitar deteriorações na qualidade das carteiras.
O papel do crédito na dinâmica econômica
Mesmo diante dos desafios, o mercado de crédito cumpre um papel fundamental na sustentação da atividade econômica. O crescimento das concessões, especialmente às empresas, tem contribuído para a manutenção do dinamismo do Produto Interno Bruto (PIB), oferecendo fôlego a setores estratégicos e garantindo liquidez para investimentos e operações.
Esse desempenho reflete não apenas a resistência do setor produtivo, mas também o papel ativo das instituições financeiras, que, mesmo diante de margens apertadas e riscos elevados, continuam a ofertar crédito para preservar sua participação no mercado e estimular o crescimento.
O panorama atual do mercado de crédito brasileiro evidencia uma contradição aparente: a expansão das concessões ocorre em meio a um dos ambientes de juros mais elevados do mundo. Essa dinâmica revela a complexidade do sistema financeiro nacional, onde imperam desafios estruturais como a ineficiência na recuperação de crédito, a tributação excessiva e a fragilidade das pequenas empresas.
Ao mesmo tempo, mostra que o crédito segue como um instrumento indispensável para o funcionamento da economia, mesmo quando as condições são adversas. O desafio para o Brasil, portanto, é reduzir os entraves estruturais que elevam o custo do crédito, aperfeiçoar os mecanismos de recuperação de ativos e criar um ambiente mais propício para que tanto empresas quanto famílias possam acessar financiamento de forma mais eficiente e sustentável.
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